14 de maio de 2013

Jorge Amado e Mário de Andrade

Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001), foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em Braille e em fitas gravadas para cegos.
Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões.

                         


Mário de Andrade nasceu no dia 9 de Outubro de 1893 em São Paulo. Formou-se em Ciências e Letras, cursou filosofia e, em 1915, concluiu o curso de canto no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Dois anos depois, diplomou-se em piano. Nesse mesmo ano de 1917 publicou, sob o pseudônimo de Mário Sobral, o seu primeiro livro de poemas: Há uma gota de sangue em cada poema. Músico, contista, poeta, colaborou em várias revistas como crítico de arte e cronista. Membro ativo do grupo modernista de São Paulo, Mário de Andrade ficou para a história da literatura universal como uma das vozes de proa do modernismo. Aderiu ao partido democrático em 1928, manifestando-se mais tarde contra o Estado Novo. Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo em 25 de fevereiro de 1945, vitimado por um enfarte do miocárdio.

                            



Como é a linguagem literária da modernidade? 
A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo (antigamente, livros eram para as elites).
Há o jogo de palavras, mas não como antigamente, que a linguagem era mais rebuscada e regrada. A linguagem de hoje está mais livre e "solta".
Os autores procuram se expressar de modo claro e objetivo, fazendo a linguagem escrita aproximar-se da falada, e, geralmente, desejam denunciar a realidade como ela é, nua e crua.


 
Poemas de Jorge Amado



Em Terras do Sem Fim 



Fazia pena, dava dó,

Tanta gente que morria.

Cabra de Horácio caía

E caía dos Badaró...

Rolavam os corpos no chão,

Dava dor no coração

Ver tanta gente morrer,

Ver tanta gente matar.

Se largou foice e machado,

Se pegou repetição...

Loja de arma enricou,

A gente toda comprou,

Se vendeu como um milhão.

Homem macho era Sinhô,

O chefe dos Badaró...

Uma vez, ele ia só,

Com cinco homens acabou.

Juca não era menos

Coragem nele sobrava,

E Juca não respeitava

Nem os grandes

Nem os pequenos.

Braz de nome Brasilino

José dos Santos se chamava,

Com ele ficava fino,

Mesmo do chão atirava,

Tanto ferido, matava.


O poeta interfere no romancista para relembrá-la tempos depois na voz dos ceguinhos pelas feiras. 




Em Mar Morto 


Lívia olha de sua janela

o mar morto sem Lua.

Aponta a Madrugada.

Os homens,

que rondavam a sua porta,

o seu corpo sem dono,

voltaram para as suas casas.

Agora tudo é mistério.

A música acabou.

Aos poucos as coisas se animam,

os cenários se movem,

os homens se alegram.

A madrugada rompe

sobre o mar morto.


Caracteriza bem a emoção pessoal do poeta, portanto,a manifestação de boa poesia, simples e rica, na cadência lírica da vida. 



Cantadores e violeiros 


Mulher casada não havia

Só se fosse na Bahia...

Por aqui já se dizia:

Casada era só projeto

- Mesmo as que tinham neto –

De viúva no outro dia.


Ressalta sobre a luta do Sequeiro Grande, ressaltando as figuras e os feitos, as inquietações também.



O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá 

O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha.


Versos de Jorge Amado dizem do mundo que só tem graça e encanto quando se vive nele fora das prisões. 





Em Tenda dos Milagres 

Aos leitores apresento

Um tratado de valor

Sobre a vida da Bahia

Mestre Achanjo é seu autor

Sua pena é o talento

E sua tinta a valentia


Defende a raça negra e se opõe ao racismo proposto pelos catedráticos, que mereceu versos elogiosos dos repentistas e poetas populares da Bahia 


Poemas de Mário de Andrade




Eu Sou Trezentos... 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Oh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Ele usa palavras como se fala. Então tem Si, ao invés de Se; milhores, ao invés de melhores, etc. Usa palavras que antes não se usava, isto é, palavras não próprias ao universo poético, que são comuns demais. Outra coisa: usa palavras do cotidiano, como táxis, esquinas.
Não tem métrica, cada verso tem um número diferente de sílabas poéticas.
Não tem regularidade de rimas, são versos brancos, como se diz.





Descobrimento 

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.

O poema retrata a súbita preocupação de um homem que mora numa grande cidade e está no conforto de seu lar.



Tietê

Era uma vez um rio...
Porém os Borbas-Gatos dos ultra-nacionais esperiamente!

Havia nas manhãs cheias de Sol do entusiasmo
as monções da ambição...
E as gigânteas!
As embarcações singravam rumo do abismal Descaminho...

Arroubos... Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!...
Ritmos de Brecheret!... E a santificação da morte!...
Foram-se os ouros!... E o hoje das turmalinas!...

- Nadador! vamos partir pela via dum Mato-Grosso?
- Io! Mai!... (Mais dez braçadas.
Quina Migone. Hat Stores. Meia de seda.)
Vado a pranzare com la Ruth.

Já o rio despejo, por causa da intensa urbanização o tietê acabou sofrendo um efeito puluitivo, com o despejo de lixo urbano e resíduos químicos industriais, tornando-se um lixão a céu aberto.


O Domador

Alturas da Avenida. Bonde 3.
Asfaltos. Vastos, altos repuxos de poeira
sob o arlequinal do céu oiro-rosa-verde...
As sujidades implexas do urbanismo.
Filés de manuelino. Calvícies de Pensilvânia.
Gritos de goticismo.

Na frente o tram da irrigação,
onde um Sol bruxo se dispersa
num triunfo persa de esmeraldas, topázios e rubis...
Lânguidos boticellis a ler Henry Bordeaux
nas clausuras sem dragões dos torreões...

Mário, paga os duzentos réis.
São cinco no banco: um branco,
um noite, um oiro,
um cinzento de tísica e Mário...
Solicitudes! Solicitudes!

Mas... olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens
esse espetáculo encantado da Avenida!
Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente!
e oh cavalos de cólera sangüínea!

Laranja da China, laranja da China, laranja da China!
Abacate, cambucá e tangerina!
Guarda-te! Aos aplausos do esfuziante clown,
heróico sucessor da raça heril dos bandeirantes,
loiramente domando um automóvel!

Mostra a natureza de alguém que doma o outro.



A Serra do rola-moça 

A serra do rola-moça
Mário de Andrade

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...

Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.

Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar.
Disseram adeus pra todos
E se puserem de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos
Ele na frente, ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.

As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões,
Temendo a noite que vinha.

Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo,
E riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
Com as risadas dos cascalhos,
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam,
Buscando o despenhadeiro.

Ali, Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
Na altura tudo era paz ...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.

E a Serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.


O Parque Estadual da Serra do Rola-Moça teve seu nome contado em 'causo' e imortalizado por Mário de Andrade em um poema que relata a história de um casal, que, logo após a cerimônia de casamento, cruzou a Serra de volta para casa, quando, então, o cavalo da moça escorregou no cascalho e caiu no fundo do grotão. O marido, desesperado, esporou seu cavalo ribanceira abaixo e 'a Serra do Rola-Moça, Rola-Moça se chamou'.

13 de maio de 2013

Clarice Lispéctor e Cecília Meireles

Clarice Lispéctor: 
Nasceu em 10 de dezembro de 1920 na Ucrânia, romantista, contista, cronista e jornalista. Sua escola/tradição era o modernismo. Morreu em 9 de dezembro de 1977 no Rio de Janeiro com 56 anos.
                       
                           


Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901 no Rio de Janeiro era poetisa, jornalista e professora de literatura, a sua escola/tradição era o modernismo e o simbolismo, morreu em 09 de novembro de 1964 com 63 anos no Rio de Janeiro.
                            
                            


 Como é a Linguagem Literária da Modernidade? 

A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo.
Antigamente a linguagem era mais rebuscada e regrada; hoje em dia, a linguagem está mais livre e "solta".
A linguagem da modernidade tanto na estética quanto na vida social apresenta um anticonvencionalismo temático, e inovação dos conteúdos que encontra correspondência também nesta linguagem.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, o estilo elevado com o estilo vulgar.
Há uma forte aproximação com a fala, isto é, com a oralidade, e geralmente desejam denunciar a realidade como ela é, nua e crua. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite erros gramaticais.



Poemas de Clarice Lispéctor



Há Momentos.

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.



Explicação: O poema retrata a forma com que devemos aproveitar as oportunidades que nos é dada pois a vida é muito breve, que devemos sempre procurar a felicidade em todos os nossos momentos.
Principais características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Meu Deu, me dê a coragem. 

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Explicação: O poema retrata sobre uma pessoa só, que pede coragem para Deus para enfrentar todos os dias de solidão, em um vazio tremendo. Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Rifa

Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconsequente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado, coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu... "não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista... Um verdadeiro sonhador... Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente e, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "
O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconsequente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que, ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e, a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Explicação: O poema retrata uma pessoa que por ter sofrido várias decepções amorosas e quer rifar o seu coração. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa,versos livres.




Já escondi um amor com medo de perde-lo

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!


Explicação: O poema descreve uma pessoa traumatizada por decepções amorosas que esconde um amor por medo, se descreve como uma pessoa livre e intensa. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



A Perfeição

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


Explicação: O poema retrata a exatidão das coisas existentes. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa, versos livres.


Poemas de Cecília Meireles


O amor


É difícil para os indecisos.

É assustador para os medrosos.

Avassalador para os apaixonados.

Mas, os vencedores no amor são os fortes.

Os que sabem o que querem e querem o que têm!

Sonhar um sonho a dois,

e nunca desistir da busca de ser feliz,

é para poucos.

Eu sou uma desses "poucos" 

amo avassaladoramente o amor das minhas vidas.


Explicação: No poema, o amor é um dom que poucas pessoas tem, e que nunca devemos desistir de procurar a felicidade em nossas vidas. 
Características da linguagem modernista: Valorização de temas ligados ao cotidiano, modernismo, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira.



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?


Explicação: Uma pessoa triste com vontade de voltar ao passado, arrependida da velhice e sem vontade de viver. 
Características da linguagem modernista: Síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira.



Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



Explicação: Ela fala sobre diversas fases suas em relação a outra pessoa.
Características da linguagem modernista: Versos livres, liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Soneto Antigo

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.


Explicação: Ela fala sobre as suas próprias características. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras,
síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Canção do Sonho Acabado

Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...


Explicação: Ela fala sobre os seus sentimentos em relação a um amor acabado. 
Características da linguagem modernista: Versos livres, liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.


7 de maio de 2013

Fernando Pessoa e Graciliano Ramos

Fernando Pessoa, poeta português, nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888. Órfão aos dois anos de idade, a mãe casou-se novamente com o cônsul português em Durban, África do Sul. Na África do Sul, Fernando frequentou a high school de Durban e recebeu o prêmio Rainha Vitória de estilo inglês, em 1903, no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Ao regressar a Lisboa, trabalhou como tradutor e correspondente em diversas empresas comerciais; ao mesmo tempo em que se dedicava intensamente à literatura. Matriculou-se na Escola Superior de Letras, mas não concluiu. Participou da publicação de várias revistas literárias, entre elas, Orpheu. A obra de Fernando Pessoa divide-se em ortônima, publicada sob seu próprio nome; e heterônima publicada sob o nome de diferentes poetas que ele criou. São seus heterônimos: Alberto Caeiro, poeta simples e de pouca escolaridade, inspirado na vida do campo e temática bucólica, que acredita no uso das sensações para relacionar-se com a natureza. Outro heterônimo é Ricardo Reis, clássico, apresenta poemas melancólicos e sóbrios, transparecendo seu desencanto com a civilização cristã do século XX. O terceiro heterônimo é Álvaro Campos, que inicialmente apresenta obediência aos padrões métricos fixos e sua poesia tem índole decadentista-simbolista. Posteriormente ele conhece Alberto Caeiro e este torna-se seu mestre, influenciando sua produção poética. Álvaro passa a usar os versos livres e seus poemas traduzem uma inadaptação social e um profundo sentimento de inapetência e impotência diante da vida. No Brasil a obra de Fernando Pessoa é encontrada em Obra Poética e contém entre outros: Mensagem; Cancioneiro; Poemas completos de Alberto Caeiro, Odes de Ricardo Reis; Poesias de Álvaro Campos; Poemas dramáticos, Poemas ingleses; Inéditas; Novas Inéditas... A obra em prosa apresenta muitos textos, além do Livro do Desassossego - por Bernardo Soares. Fernando Pessoa morreu em Lisboa em 30 de novembro de 1935, até hoje sua obra não foi publicada em sua totalidade, pois ele deixou cerca de 27 mil papéis em um baú.Ele é considerado um dos maiores e melhores poetas de todos os tempos.
 
                          

Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL), em 1892. Um dos 15 filhos de uma família de classe média do sertão nordestino passou parte da infância em Buíque (PE) e outra em Viçosa (AL). Fez estudos secundários em Maceió, mas não cursou faculdade. Em 1910, sua família se estabelece em Palmeira dos Índios (AL).
Em 1914, após breve estada no Rio de Janeiro, trabalhando como revisor, retorna à cidade natal, depois da morte de três irmãos, vitimados pela peste bubônica. Passa a fazer jornalismo e política em Palmeira dos Índios, chegando a ser prefeito da cidade (1928-30).
Em 1925, começa a escrever seu primeiro romance, Caetés - que viria a ser publicado em 1933. Muda-se para Maceió em 1930, e dirige a Imprensa e Instrução do Estado. Logo viriam "São Bernardo" (1934) e "Angústia" (1936, ano em que foi preso pelo regime Vargas, sob a acusação de subversão).
Memórias do Cárcere (1953) é um contundente relato da experiência na prisão. Após ser solto, em 1937, Graciliano transfere-se para o Rio de Janeiro, onde continua a publicar não só romances, mas contos e livros infantis. Vidas Secas é de 1938.
Em 1945, ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Sua viagem para a Rússia e outros países do bloco socialista é relatada em Viagem, publicado em 1953, ano de sua morte.

                         





Como é a linguagem literária da modernidade? 

A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo. Há o jogo de palavras, mas não como antigamente, que a linguagem era mais rebuscada e regrada. A linguagem de hoje está mais livre e "solta". Os autores procuram se expressar de modo claro e objetivo, fazendo a linguagem escrita aproximar-se da falada, e, geralmente, desejam denunciar a realidade como ela é.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, e o estilo elevado com o estilo vulgar. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que inclusive, admite erros gramaticais.
Os esforços redefini a linguagem artística que se unem a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas.


Poemas de Fernando Pessoa

“Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um. “

Explicação: Enquanto não nos desprendermos da ideia de que para sermos felizes, necessitamos de outra pessoa, continuaremos presos à solidão. Antes de nos entregarmos a alguém é necessário dar valor a si próprio. Faz parte do Modernismo, pois: Tem liberdade de expressão, ele incorpora fatos do cotidiano, possui versos livres, sem preocupação com métrica, rimas, etc.



“Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar... “

Explicação: Nunca sabemos o que realmente é o amor, e por essa falta de conhecimento, amar passa a ser uma inocência, pois não temos noção do que significa. Faz parte do Modernismo, pois: possui a liberdade de expressão do autor onde não há limites para criação, apresenta versos livres, incorporação do cotidiano e apresentação de linguagem coloquial.



Não sei quantas almas tenho 


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.


Explicação: O autor fala que cada momento de sua vida é único,não existe momentos na vida iguais aos que já passaram.O poema é moderno pois autor foi livre para escrever o que sentia e escreveu na 1°pessoa,sendo ele sentindo toda a emoção.


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Explicação: O poema aponta as virtudes portuguesas que Fernando Pessoa acredita que o país deva se "regenerar", ou seja, tornar-se grande como foi no passado através da valorização cultural da nação.
É Moderno, pois: Glorifica acima de tudo o estilo camoniano e o valor simbólico dos heróis do passado, como os Descobrimentos portugueses.



Não Sei Quantas Almas Tenho 

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Explicação: O eu lírico está olhando pra si mesmo, criticando e indagando seus atos. Faz uma critica de si mesmo em cima da sua forma de viver. 
Faz parte do Modernismo, pois: Possui a liberdade de expressão do poeta, liberdade estética, uso de versos livres, inovações técnicas, que são características do Modernismo. O poema de Fernando Pessoa possui também a questão da heteronímia, que resulta de características pessoais referentes à personalidade do autor: o desdobramento do “eu”, a multiplicação de identidades e a sinceridade do fingimento, uma condição que patenteou sua criação literária.

Poemas de Graciliano Ramos


“Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de ideias obliteradas.”

Explicação: O autor fala que ele queria eliminar tudo o que havia em seu coração dos acontecimentos do passado para dar espaço para novas ideias.Ele é moderno pois quando expressa “Queria endurecer o coração”, a expressão isso se torna um sentimento, que expressa essa ideia do autor, e expressão é uma característica Moderna.



“Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano.”

Explicação: O poema quer dizer que o brasileiro se preocupa com o carnaval, e não com a vida.



“Quando se quer bem a uma pessoa a presença dela conforta. Só a presença, não é necessário mais nada. “

Explicação: O poema quis dizer que quando você gosta de uma pessoa, só a presença dela perto de você faz bem, não precisa de mais nada, só ela do seu lado.



“Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras,não deixar vestígio de ideias obliteradas.”

Explicação: O poema quer dizer que ele não quer mais gostar de ninguém, pois já sofreu bastante e nem quer deixar vestígios da pessoa amada em seu coração.




Angústia 

"Lá estão novamente gritando os meus desejos. Calam-se acovardados, tornam-se inofensivos, transformam-se, correm para a vila recomposta. Um arrepio atravessa-me a espinha, inteiriça-me os dedos sobre o papel. Naturalmente são os desejos que fazem isto, mas atribuo a coisa à chuva que bate no telhado e à recordação daquela peneira ranzinza que descia do céu todos os dias."

Explicação: Os desejos que o perturba, faz com que ele sinta a reação, mas é aflição de não poder ter uma reação que o incomoda. 
Faz parte do Modernismo, pois: tem liberdade de expressão do eu lírico, liberdade estética, inovações técnicas, fluxo de consciência.