14 de maio de 2013

Jorge Amado e Mário de Andrade

Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001), foi um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres. A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em Braille e em fitas gravadas para cegos.
Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões.

                         


Mário de Andrade nasceu no dia 9 de Outubro de 1893 em São Paulo. Formou-se em Ciências e Letras, cursou filosofia e, em 1915, concluiu o curso de canto no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Dois anos depois, diplomou-se em piano. Nesse mesmo ano de 1917 publicou, sob o pseudônimo de Mário Sobral, o seu primeiro livro de poemas: Há uma gota de sangue em cada poema. Músico, contista, poeta, colaborou em várias revistas como crítico de arte e cronista. Membro ativo do grupo modernista de São Paulo, Mário de Andrade ficou para a história da literatura universal como uma das vozes de proa do modernismo. Aderiu ao partido democrático em 1928, manifestando-se mais tarde contra o Estado Novo. Coberto de reconhecimento pelo papel de vanguarda que desempenhou em três décadas, Mário de Andrade morreu em São Paulo em 25 de fevereiro de 1945, vitimado por um enfarte do miocárdio.

                            



Como é a linguagem literária da modernidade? 
A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo (antigamente, livros eram para as elites).
Há o jogo de palavras, mas não como antigamente, que a linguagem era mais rebuscada e regrada. A linguagem de hoje está mais livre e "solta".
Os autores procuram se expressar de modo claro e objetivo, fazendo a linguagem escrita aproximar-se da falada, e, geralmente, desejam denunciar a realidade como ela é, nua e crua.


 
Poemas de Jorge Amado



Em Terras do Sem Fim 



Fazia pena, dava dó,

Tanta gente que morria.

Cabra de Horácio caía

E caía dos Badaró...

Rolavam os corpos no chão,

Dava dor no coração

Ver tanta gente morrer,

Ver tanta gente matar.

Se largou foice e machado,

Se pegou repetição...

Loja de arma enricou,

A gente toda comprou,

Se vendeu como um milhão.

Homem macho era Sinhô,

O chefe dos Badaró...

Uma vez, ele ia só,

Com cinco homens acabou.

Juca não era menos

Coragem nele sobrava,

E Juca não respeitava

Nem os grandes

Nem os pequenos.

Braz de nome Brasilino

José dos Santos se chamava,

Com ele ficava fino,

Mesmo do chão atirava,

Tanto ferido, matava.


O poeta interfere no romancista para relembrá-la tempos depois na voz dos ceguinhos pelas feiras. 




Em Mar Morto 


Lívia olha de sua janela

o mar morto sem Lua.

Aponta a Madrugada.

Os homens,

que rondavam a sua porta,

o seu corpo sem dono,

voltaram para as suas casas.

Agora tudo é mistério.

A música acabou.

Aos poucos as coisas se animam,

os cenários se movem,

os homens se alegram.

A madrugada rompe

sobre o mar morto.


Caracteriza bem a emoção pessoal do poeta, portanto,a manifestação de boa poesia, simples e rica, na cadência lírica da vida. 



Cantadores e violeiros 


Mulher casada não havia

Só se fosse na Bahia...

Por aqui já se dizia:

Casada era só projeto

- Mesmo as que tinham neto –

De viúva no outro dia.


Ressalta sobre a luta do Sequeiro Grande, ressaltando as figuras e os feitos, as inquietações também.



O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá 

O mundo só vai prestar
Para nele se viver
No dia em que a gente ver
Um gato maltês casar
Com uma alegre andorinha
Saindo os dois a voar
O noivo e sua noivinha
Dom Gato e Dona Andorinha.


Versos de Jorge Amado dizem do mundo que só tem graça e encanto quando se vive nele fora das prisões. 





Em Tenda dos Milagres 

Aos leitores apresento

Um tratado de valor

Sobre a vida da Bahia

Mestre Achanjo é seu autor

Sua pena é o talento

E sua tinta a valentia


Defende a raça negra e se opõe ao racismo proposto pelos catedráticos, que mereceu versos elogiosos dos repentistas e poetas populares da Bahia 


Poemas de Mário de Andrade




Eu Sou Trezentos... 

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Oh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!

Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus próprios beijos!

Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo.

Ele usa palavras como se fala. Então tem Si, ao invés de Se; milhores, ao invés de melhores, etc. Usa palavras que antes não se usava, isto é, palavras não próprias ao universo poético, que são comuns demais. Outra coisa: usa palavras do cotidiano, como táxis, esquinas.
Não tem métrica, cada verso tem um número diferente de sílabas poéticas.
Não tem regularidade de rimas, são versos brancos, como se diz.





Descobrimento 

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De supetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei que lá no Norte, meu Deus!
muito longe de mim
Na escuridão ativa da noite que caiu
Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.
Esse homem é brasileiro que nem eu.

O poema retrata a súbita preocupação de um homem que mora numa grande cidade e está no conforto de seu lar.



Tietê

Era uma vez um rio...
Porém os Borbas-Gatos dos ultra-nacionais esperiamente!

Havia nas manhãs cheias de Sol do entusiasmo
as monções da ambição...
E as gigânteas!
As embarcações singravam rumo do abismal Descaminho...

Arroubos... Lutas... Setas... Cantigas... Povoar!...
Ritmos de Brecheret!... E a santificação da morte!...
Foram-se os ouros!... E o hoje das turmalinas!...

- Nadador! vamos partir pela via dum Mato-Grosso?
- Io! Mai!... (Mais dez braçadas.
Quina Migone. Hat Stores. Meia de seda.)
Vado a pranzare com la Ruth.

Já o rio despejo, por causa da intensa urbanização o tietê acabou sofrendo um efeito puluitivo, com o despejo de lixo urbano e resíduos químicos industriais, tornando-se um lixão a céu aberto.


O Domador

Alturas da Avenida. Bonde 3.
Asfaltos. Vastos, altos repuxos de poeira
sob o arlequinal do céu oiro-rosa-verde...
As sujidades implexas do urbanismo.
Filés de manuelino. Calvícies de Pensilvânia.
Gritos de goticismo.

Na frente o tram da irrigação,
onde um Sol bruxo se dispersa
num triunfo persa de esmeraldas, topázios e rubis...
Lânguidos boticellis a ler Henry Bordeaux
nas clausuras sem dragões dos torreões...

Mário, paga os duzentos réis.
São cinco no banco: um branco,
um noite, um oiro,
um cinzento de tísica e Mário...
Solicitudes! Solicitudes!

Mas... olhai, oh meus olhos saudosos dos ontens
esse espetáculo encantado da Avenida!
Revivei, oh gaúchos paulistas ancestremente!
e oh cavalos de cólera sangüínea!

Laranja da China, laranja da China, laranja da China!
Abacate, cambucá e tangerina!
Guarda-te! Aos aplausos do esfuziante clown,
heróico sucessor da raça heril dos bandeirantes,
loiramente domando um automóvel!

Mostra a natureza de alguém que doma o outro.



A Serra do rola-moça 

A serra do rola-moça
Mário de Andrade

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não...

Eles eram do outro lado,
Vieram na vila casar.
E atravessaram a serra,
O noivo com a noiva dele
Cada qual no seu cavalo.

Antes que chegasse a noite
Se lembraram de voltar.
Disseram adeus pra todos
E se puserem de novo
Pelos atalhos da serra
Cada qual no seu cavalo.

Os dois estavam felizes,
Na altura tudo era paz.
Pelos caminhos estreitos
Ele na frente, ela atrás.
E riam. Como eles riam!
Riam até sem razão.

A Serra do Rola-Moça
Não tinha esse nome não.

As tribos rubras da tarde
Rapidamente fugiam
E apressadas se escondiam
Lá embaixo nos socavões,
Temendo a noite que vinha.

Porém os dois continuavam
Cada qual no seu cavalo,
E riam. Como eles riam!
E os risos também casavam
Com as risadas dos cascalhos,
Que pulando levianinhos
Da vereda se soltavam,
Buscando o despenhadeiro.

Ali, Fortuna inviolável!
O casco pisara em falso.
Dão noiva e cavalo um salto
Precipitados no abismo.
Nem o baque se escutou.
Faz um silêncio de morte,
Na altura tudo era paz ...
Chicoteado o seu cavalo,
No vão do despenhadeiro
O noivo se despenhou.

E a Serra do Rola-Moça
Rola-Moça se chamou.


O Parque Estadual da Serra do Rola-Moça teve seu nome contado em 'causo' e imortalizado por Mário de Andrade em um poema que relata a história de um casal, que, logo após a cerimônia de casamento, cruzou a Serra de volta para casa, quando, então, o cavalo da moça escorregou no cascalho e caiu no fundo do grotão. O marido, desesperado, esporou seu cavalo ribanceira abaixo e 'a Serra do Rola-Moça, Rola-Moça se chamou'.

13 de maio de 2013

Clarice Lispéctor e Cecília Meireles

Clarice Lispéctor: 
Nasceu em 10 de dezembro de 1920 na Ucrânia, romantista, contista, cronista e jornalista. Sua escola/tradição era o modernismo. Morreu em 9 de dezembro de 1977 no Rio de Janeiro com 56 anos.
                       
                           


Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901 no Rio de Janeiro era poetisa, jornalista e professora de literatura, a sua escola/tradição era o modernismo e o simbolismo, morreu em 09 de novembro de 1964 com 63 anos no Rio de Janeiro.
                            
                            


 Como é a Linguagem Literária da Modernidade? 

A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo.
Antigamente a linguagem era mais rebuscada e regrada; hoje em dia, a linguagem está mais livre e "solta".
A linguagem da modernidade tanto na estética quanto na vida social apresenta um anticonvencionalismo temático, e inovação dos conteúdos que encontra correspondência também nesta linguagem.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, o estilo elevado com o estilo vulgar.
Há uma forte aproximação com a fala, isto é, com a oralidade, e geralmente desejam denunciar a realidade como ela é, nua e crua. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite erros gramaticais.



Poemas de Clarice Lispéctor



Há Momentos.

Há momentos na vida em que sentimos tanto
a falta de alguém que o que mais queremos
é tirar esta pessoa de nossos sonhos
e abraçá-la.

Sonhe com aquilo que você quiser.
Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que se quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes
não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor
das oportunidades que aparecem
em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante
é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida
quando perdoar os erros
e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar
duram uma eternidade.
A vida não é de se brincar
porque um belo dia se morre.



Explicação: O poema retrata a forma com que devemos aproveitar as oportunidades que nos é dada pois a vida é muito breve, que devemos sempre procurar a felicidade em todos os nossos momentos.
Principais características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Meu Deu, me dê a coragem. 

Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

Explicação: O poema retrata sobre uma pessoa só, que pede coragem para Deus para enfrentar todos os dias de solidão, em um vazio tremendo. Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Rifa

Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos, e cultivar ilusões.
Um pouco inconsequente que nunca desiste de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado, coração que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu... "não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...".
Um idealista... Um verdadeiro sonhador... Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos.
Este coração tantas vezes incompreendido.
Tantas vezes provocado.
Tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que, abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente e, contra indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "
O Senhor poder conferir", eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer".
Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconsequente.
Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que, ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e, a ter a petulância de se aventurar como poeta.

Explicação: O poema retrata uma pessoa que por ter sofrido várias decepções amorosas e quer rifar o seu coração. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa,versos livres.




Já escondi um amor com medo de perde-lo

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!


Explicação: O poema descreve uma pessoa traumatizada por decepções amorosas que esconde um amor por medo, se descreve como uma pessoa livre e intensa. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



A Perfeição

O que me tranquiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.


Explicação: O poema retrata a exatidão das coisas existentes. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa, versos livres.


Poemas de Cecília Meireles


O amor


É difícil para os indecisos.

É assustador para os medrosos.

Avassalador para os apaixonados.

Mas, os vencedores no amor são os fortes.

Os que sabem o que querem e querem o que têm!

Sonhar um sonho a dois,

e nunca desistir da busca de ser feliz,

é para poucos.

Eu sou uma desses "poucos" 

amo avassaladoramente o amor das minhas vidas.


Explicação: No poema, o amor é um dom que poucas pessoas tem, e que nunca devemos desistir de procurar a felicidade em nossas vidas. 
Características da linguagem modernista: Valorização de temas ligados ao cotidiano, modernismo, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira.



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?


Explicação: Uma pessoa triste com vontade de voltar ao passado, arrependida da velhice e sem vontade de viver. 
Características da linguagem modernista: Síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira.



Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...



Explicação: Ela fala sobre diversas fases suas em relação a outra pessoa.
Características da linguagem modernista: Versos livres, liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Soneto Antigo

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.


Explicação: Ela fala sobre as suas próprias características. 
Características da linguagem modernista: Liberdade na escolha de palavras,
síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.



Canção do Sonho Acabado

Já tive a rosa do amor
- rubra rosa, sem pudor.
Cobicei, cheirei, colhi.
Mas ela despetalou
E outra igual, nunca mais vi.
Já vivi mil aventuras,
Me embriaguei de alegria!
Mas os risos da ventura,
No limiar da loucura,
Se tornaram fantasia...
Já almejei felicidade,
Mãos dadas, fraternidade,
Um ideal sem fronteiras
- utopia! Voou ligeira,
Nas asas da liberdade.
Desejei viver. Demais!
Segurar a juventude,
Prender o tempo na mão,
Plantar o lírio da paz!
Mas nem mesmo isto eu pude:
Tentei, porém nada fiz...
Muito, da vida, eu já quis.
Já quis... mas não quero mais...


Explicação: Ela fala sobre os seus sentimentos em relação a um amor acabado. 
Características da linguagem modernista: Versos livres, liberdade na escolha de palavras, síntese na linguagem, parágrafos curtos, busca de uma linguagem brasileira, pontuação relativa.


7 de maio de 2013

Fernando Pessoa e Graciliano Ramos

Fernando Pessoa, poeta português, nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888. Órfão aos dois anos de idade, a mãe casou-se novamente com o cônsul português em Durban, África do Sul. Na África do Sul, Fernando frequentou a high school de Durban e recebeu o prêmio Rainha Vitória de estilo inglês, em 1903, no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Ao regressar a Lisboa, trabalhou como tradutor e correspondente em diversas empresas comerciais; ao mesmo tempo em que se dedicava intensamente à literatura. Matriculou-se na Escola Superior de Letras, mas não concluiu. Participou da publicação de várias revistas literárias, entre elas, Orpheu. A obra de Fernando Pessoa divide-se em ortônima, publicada sob seu próprio nome; e heterônima publicada sob o nome de diferentes poetas que ele criou. São seus heterônimos: Alberto Caeiro, poeta simples e de pouca escolaridade, inspirado na vida do campo e temática bucólica, que acredita no uso das sensações para relacionar-se com a natureza. Outro heterônimo é Ricardo Reis, clássico, apresenta poemas melancólicos e sóbrios, transparecendo seu desencanto com a civilização cristã do século XX. O terceiro heterônimo é Álvaro Campos, que inicialmente apresenta obediência aos padrões métricos fixos e sua poesia tem índole decadentista-simbolista. Posteriormente ele conhece Alberto Caeiro e este torna-se seu mestre, influenciando sua produção poética. Álvaro passa a usar os versos livres e seus poemas traduzem uma inadaptação social e um profundo sentimento de inapetência e impotência diante da vida. No Brasil a obra de Fernando Pessoa é encontrada em Obra Poética e contém entre outros: Mensagem; Cancioneiro; Poemas completos de Alberto Caeiro, Odes de Ricardo Reis; Poesias de Álvaro Campos; Poemas dramáticos, Poemas ingleses; Inéditas; Novas Inéditas... A obra em prosa apresenta muitos textos, além do Livro do Desassossego - por Bernardo Soares. Fernando Pessoa morreu em Lisboa em 30 de novembro de 1935, até hoje sua obra não foi publicada em sua totalidade, pois ele deixou cerca de 27 mil papéis em um baú.Ele é considerado um dos maiores e melhores poetas de todos os tempos.
 
                          

Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo (AL), em 1892. Um dos 15 filhos de uma família de classe média do sertão nordestino passou parte da infância em Buíque (PE) e outra em Viçosa (AL). Fez estudos secundários em Maceió, mas não cursou faculdade. Em 1910, sua família se estabelece em Palmeira dos Índios (AL).
Em 1914, após breve estada no Rio de Janeiro, trabalhando como revisor, retorna à cidade natal, depois da morte de três irmãos, vitimados pela peste bubônica. Passa a fazer jornalismo e política em Palmeira dos Índios, chegando a ser prefeito da cidade (1928-30).
Em 1925, começa a escrever seu primeiro romance, Caetés - que viria a ser publicado em 1933. Muda-se para Maceió em 1930, e dirige a Imprensa e Instrução do Estado. Logo viriam "São Bernardo" (1934) e "Angústia" (1936, ano em que foi preso pelo regime Vargas, sob a acusação de subversão).
Memórias do Cárcere (1953) é um contundente relato da experiência na prisão. Após ser solto, em 1937, Graciliano transfere-se para o Rio de Janeiro, onde continua a publicar não só romances, mas contos e livros infantis. Vidas Secas é de 1938.
Em 1945, ingressa no Partido Comunista Brasileiro. Sua viagem para a Rússia e outros países do bloco socialista é relatada em Viagem, publicado em 1953, ano de sua morte.

                         





Como é a linguagem literária da modernidade? 

A linguagem de hoje procura usar palavras simples e objetivas, de forma que até as pessoas menos estudadas compreendam o conteúdo. Há o jogo de palavras, mas não como antigamente, que a linguagem era mais rebuscada e regrada. A linguagem de hoje está mais livre e "solta". Os autores procuram se expressar de modo claro e objetivo, fazendo a linguagem escrita aproximar-se da falada, e, geralmente, desejam denunciar a realidade como ela é.
Além das inovações técnicas, a linguagem torna-se coloquial e espontânea, mesclando expressões da língua culta com termos populares, e o estilo elevado com o estilo vulgar. Assim, liberto da escrita nobre, o artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que inclusive, admite erros gramaticais.
Os esforços redefini a linguagem artística que se unem a um forte interesse pelas temáticas nacionalistas.


Poemas de Fernando Pessoa

“Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um. “

Explicação: Enquanto não nos desprendermos da ideia de que para sermos felizes, necessitamos de outra pessoa, continuaremos presos à solidão. Antes de nos entregarmos a alguém é necessário dar valor a si próprio. Faz parte do Modernismo, pois: Tem liberdade de expressão, ele incorpora fatos do cotidiano, possui versos livres, sem preocupação com métrica, rimas, etc.



“Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência, não pensar... “

Explicação: Nunca sabemos o que realmente é o amor, e por essa falta de conhecimento, amar passa a ser uma inocência, pois não temos noção do que significa. Faz parte do Modernismo, pois: possui a liberdade de expressão do autor onde não há limites para criação, apresenta versos livres, incorporação do cotidiano e apresentação de linguagem coloquial.



Não sei quantas almas tenho 


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.


Explicação: O autor fala que cada momento de sua vida é único,não existe momentos na vida iguais aos que já passaram.O poema é moderno pois autor foi livre para escrever o que sentia e escreveu na 1°pessoa,sendo ele sentindo toda a emoção.


MAR PORTUGUÊS

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Explicação: O poema aponta as virtudes portuguesas que Fernando Pessoa acredita que o país deva se "regenerar", ou seja, tornar-se grande como foi no passado através da valorização cultural da nação.
É Moderno, pois: Glorifica acima de tudo o estilo camoniano e o valor simbólico dos heróis do passado, como os Descobrimentos portugueses.



Não Sei Quantas Almas Tenho 

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não atem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: “Fui eu?”
Deus sabe, porque o escreveu.

Explicação: O eu lírico está olhando pra si mesmo, criticando e indagando seus atos. Faz uma critica de si mesmo em cima da sua forma de viver. 
Faz parte do Modernismo, pois: Possui a liberdade de expressão do poeta, liberdade estética, uso de versos livres, inovações técnicas, que são características do Modernismo. O poema de Fernando Pessoa possui também a questão da heteronímia, que resulta de características pessoais referentes à personalidade do autor: o desdobramento do “eu”, a multiplicação de identidades e a sinceridade do fingimento, uma condição que patenteou sua criação literária.

Poemas de Graciliano Ramos


“Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras, não deixar vestígio de ideias obliteradas.”

Explicação: O autor fala que ele queria eliminar tudo o que havia em seu coração dos acontecimentos do passado para dar espaço para novas ideias.Ele é moderno pois quando expressa “Queria endurecer o coração”, a expressão isso se torna um sentimento, que expressa essa ideia do autor, e expressão é uma característica Moderna.



“Se a única coisa que de o homem terá certeza é a morte; a única certeza do brasileiro é o carnaval no próximo ano.”

Explicação: O poema quer dizer que o brasileiro se preocupa com o carnaval, e não com a vida.



“Quando se quer bem a uma pessoa a presença dela conforta. Só a presença, não é necessário mais nada. “

Explicação: O poema quis dizer que quando você gosta de uma pessoa, só a presença dela perto de você faz bem, não precisa de mais nada, só ela do seu lado.



“Queria endurecer o coração, eliminar o passado, fazer com ele o que faço quando emendo um período — riscar, engrossar os riscos e transformá-los em borrões, suprimir todas as letras,não deixar vestígio de ideias obliteradas.”

Explicação: O poema quer dizer que ele não quer mais gostar de ninguém, pois já sofreu bastante e nem quer deixar vestígios da pessoa amada em seu coração.




Angústia 

"Lá estão novamente gritando os meus desejos. Calam-se acovardados, tornam-se inofensivos, transformam-se, correm para a vila recomposta. Um arrepio atravessa-me a espinha, inteiriça-me os dedos sobre o papel. Naturalmente são os desejos que fazem isto, mas atribuo a coisa à chuva que bate no telhado e à recordação daquela peneira ranzinza que descia do céu todos os dias."

Explicação: Os desejos que o perturba, faz com que ele sinta a reação, mas é aflição de não poder ter uma reação que o incomoda. 
Faz parte do Modernismo, pois: tem liberdade de expressão do eu lírico, liberdade estética, inovações técnicas, fluxo de consciência.


29 de abril de 2013

Manuel Bandeira e Érico Veríssimo

Manuel Bandeira (1886-1968): foi poeta brasileiro, professor de Literatura, crítico literário e crítico de arte. Inicialmente interessado em música e arquitetura, descobriu a poesia por acaso, na condição de doente, em repouso, para tratamento de uma tuberculose. Os temas mais comuns de sua obra, são entre outros, a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância.
                              



Érico Veríssimo (1905-1975)
: É um dos célebres escritores brasileiros, muito popular no século XX. Trabalhou como farmacêutico, professor de literatura e língua inglesa.
Mas o que materializou sua existência e arte foram sem dúvida suas Obras, das quais destacam-se os Romances (Urbanos, Históricos e Políticos). Delas muitas Frases e pensamentos do escritor ficaram famosas – Frases sobre Amor, Vida e Reflexões.




Como é a Linguagem Literária da Modernidade? 

Algumas décadas atrás, a linguagem era regrada e complexa. Nos dias atuais, a mesma procura usar palavras simples e objetivas, de forma que todas as pessoas consigam entender, se aproximando muito da fala, isto é, o artista se liberta da escrita nobre, voltando-se a linguagem coloquial e espontânea. 
Também, na literatura moderna o artista procura romper com a tradição anterior, anseia por uma arte totalmente nova, aparece como um ser engajado em uma causa social e cúmplice da sua criação.



Poemas de Manoel Bandeira

                                                                   
                                                                        Pardalzinho 

O pardalzinho nasceu

Livre. Quebraram-lhe a asa.

Sacha lhe deu uma casa,

Água, comida e carinhos.

Foram cuidados em vão:

A casa era uma prisão,

O pardalzinho morreu.

O corpo Sacha enterrou

No jardim; a alma, essa voou

Para o céu dos passarinhos!


Explicação:
Manuel Bandeira traz à tona um dos anseios mais intensos e profundos do ser humano, que é desfrutar a liberdade. Também emprega o uso do verso livre (ruptura com a estrutura tradicional do poema), fala coloquial, poesia simples, direta, aproveitamento de fatos do cotidiano e sentimento de humildade.



Arte de Amar 

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Explicação:
Elementos como matéria e espírito, amor como ato físico e amor como experiência espiritual constituem o poema “A arte de amar”, no qual o poeta usa o tema da relação amorosa. E novamente ele utiliza versos livres, cotidiano brasileiro, linguagem simples e direta. 

                     


Noite Morta 


Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.
No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.
O córrego chora.
A voz da noite. . .
(Não desta noite, mas de outra maior.)

Explicação:
Observe que o poema transmitiu uma forte impressão de melancolia e solidão – que se torna ainda mais pesada devido ao sentimento de irremediabilidade da morte que o texto reforça com seu final que fala “não desta noite, mas de outra maior”. E toda esta atmosfera é obtida por meio de versos livres, não há palavras difíceis nem imagens complexas no texto.



Minha grande ternura 


Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.

Explicação:
É repleto de um lirismo melancólico que remete aos temas tão recorrentes na poética de Bandeira: a espera pela morte, a frustração, a lamentação de quem espera pelo fim, o sofrimento, a angústia, a tristeza. Pode-se entender a existência de dois tempos distintos no poema: o passado (uma vida que poderia ter sido e não foi) das três primeiras estrofes e o presente da última, simbolizando, então, o “enterro” das ações do passado, o resguardo mental, a experiência.




Meu último poema 

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Explicação:
Em “O último poema” é possível encontrar o tom mórbido, a simplicidade é a meta do sujeito poético, é formado por versos livres, sem metrificação e sem rima e traz à tona um eu-lírico que expressa como quer que seja seu último poema: simples e espontâneo. 



Poemas de Érico Veríssimo

Trecho da obra “Clarissa”, de 1933 

“... sobre uma coluna de madeira escura, a um canto da sala rebrilha o aquário. Pirolito está agitado. Será que a luz elétrica o assusta? Clarissa se aproxima do vaso de cristal. Agora nota que a água parece toda cheia de rebrilhos. A janela, as lâmpadas elétricas, os móveis da sala, tudo se reflete no aquário."


Explicação: 
O mundo juvenil, povoado de sonhos e fantasias, possuía uma peculiaridade inconfundível: estava todo ele "refletido no aquário", mudando o desenho a todo o momento, metade de cada coisa revelada e a outra metade ainda interrogável na sombra. A realidade teria de ser captada no contorno do aquário, respeitando o mistério do universo de Clarissa que só a ela pertence. O romancista não se impõe às personagens; ao contrário, prefere ver o mundo através das personagens; e isso as faz viver como gente de carne e osso.



Outro trecho da obra “Clarissa”, de 1933 

"O raio de sol é de um outro mundo. Clarissa, se pudesse falar, se tu pudesses entender. Eu te diria que nunca desejasses que o tempo passasse. Eu te pediria que fizesses durar mais e mais este momento milagroso."

Explicação:
Há também na obra o lado obscuro e amargo da vida, refletido em Amaro, que contempla na vitalidade física e espiritual de Clarissa tudo aquilo que a vida lhe negou: segurança, alegria, imaginação. Amaro transfere a Clarissa à imagem da mulher que sempre idealizara e sabe que nunca chegará a possuir. Nesse trecho o personagem expressa à melancolia diante do futuro que não está mais ao seu alcance.
Podemos perceber um dos temas recorrentes usados pelo autor em suas obras - o tempo; o comportamento dos seres perante o decurso do tempo, que é vida e morte, descoberta e esquecimento. E outra marca da identidade do romancista é a preferência por personagens femininas.



Trecho do livro “Olhai os Lírios do Campo”, de 1938 


“Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças e da incompreensão de nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranhas-céus se não há mais alma humana para morar neles…”

Explicação:
Nesse Livro destacam se o lirismo romântico da história de Eugênio, descobrindo que o dinheiro não traz felicidade, aos moldes do romance urbano de 30, de caráter socialista. Há também as Cartas de Olívia, muito profundas que falam sobre a ganância dos homens, ideias revolucionárias de mudanças individuais e coletivas e uma bela visão da Fé e de Deus são relatadas.




Trecho do livro “O Resto é Silêncio”, de 1943 

"Você é muito menino, ainda não sabe de certas coisas... Mas viver é morrer em prestações. Cada criança que nasce assina com a vida um contrato de compra e venda... e nós nunca sabemos o prazo certo do vencimento. [...] A criança assina o contrato e o vendedor, que é a Morte, passa a cobrar as prestações anualmente. Cada ano nós morremos um pouco. Quando vamos ficando velhos, as prestações já não são anuais, e sim semanais. Por fim o contrato se vence. E o pior de tudo é que nós continuamos sem saber o que compramos. Por acaso você sabe?"

Explicação:
Nesse trecho, o autor nos mostra, a fragilidade humana e a forma como vivemos neste mundo de modo tão efêmero, e como a morte nos impressiona e nos marca.
Em “O resto é silêncio” temos uma história vista de sete ângulos diferentes, que é narrada do ponto de vista dos personagens, o que garante a narrativa psicológica. Érico Veríssimo analisa o comportamento humano, ao mesmo tempo em que traça o perfil de uma época.



Trecho de “Incidente em Antares”, de 1971 

“Nasciam em Antares os boatos mais desencontrados. Ora, um boato é uma espécie de enjeitadinho que aparece à soleira duma porta, num canto de muro ou mesmo no meio duma rua ou duma calçada, ali abandonado não se sabe por quem; em suma, um recém-nascido de genitores ignorados. Um popular acha-o engraçadinho ou monstruoso, toma-o nos braços, nina-o, passa-o depois ao primeiro conhecido que encontra, o qual por sua vez entrega o inocente ao cuidado de outro ou outros, e assim o bastardinho vai sendo amamentado de seio em seio ou, melhor, de imaginação em imaginação, e em poucos minutos cresce, fica adulto – tão substancial e dramático é o leite da fantasia popular –, começa a caminhar com as próprias pernas, a falar com a própria voz e, perdida a inocência, a pensar com a própria cabeça desvairada, e há um momento em que se transforma num gigante, maior que os mais altos edifícios da cidade, causando temores e até pânico entre a população, apavorando até mesmo aquele que inadvertidamente o gerou.”

Explicação:
Incidente em Antares é marcado por um forte tom político, além de trazer características do Realismo Fantástico, já que coisas reais e irreais acontecem com a mesma naturalidade. Com uma linguagem irônica, de humor e ao mesmo tempo de crítica social, Érico Veríssimo traz neste romance uma análise da sociedade de Antares em uma comparação à própria sociedade brasileira.



Conclusão 

O Modernismo tem como objetivo o rompimento com o tradicional, é a busca pela liberdade de pensar e de expressar sentimentos, a partir de uma linguagem simples e a valorização do popular.
O Modernismo Brasileiro foi o movimento que impulsionou a construção de uma literatura brasileira mais autônoma em relação aos padrões europeus, que nos serviam de modelo naquela época.


15 de abril de 2013

Vinícius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade

Marcus Vinícius da Cruz Mello Moraes, nasceu em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro. Atraído pela música desde cedo,teve seu primeiro poema musical publicado na revista A Ordem, em 1932. Morreu também no Rio de Janeiro, a 9 de julho de 1980. Os primeiros passos de sua carreira estão ainda sob influências neossimbolistas, contendo certo misticismo. Porém, logo modificou seu estilo para o erotismo, em contraste à suas obras de tom bíblicas anteriores. É caracterizado por inovações na ordem formal, a mais notável destas seria o aparecimento dos sonetos. Revela uma valorização para o momento, com as coisas acontecendo de repente. Seus poemas trabalharam com a felicidade e/ou a infelicidade muitas vezes. Vinícius procurou também escrever algumas poesias no ramo social, fez importante colaboração para a música nacional, cantando no estilo bossa nova.




Carlos Drummond de Andrade Nasceu em 1902, na cidade de Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais. Filho de Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade, proprietários rurais decadentes. O seu estilo poético era permeado por traços de ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida, e de humor. Drummond fazia verdadeiros "retratos existenciais", e os transformava em poemas com incrível maestria. Morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, doze dias depois do falecimento de sua filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.






Como é a linguagem literária na modernidade? 
A linguagem literária na modernidade esta se atualizando cada vez mais e utilizando uma maneira de escrever mais fácil de ser compreendida, pois a literatura mais antiga utilizava de palavras mais complexas e isso acabava dificultando a compreensão. Os escritores hoje também estão colocando em seus textos muitas gírias e termos populares, mas sempre mesclando com a língua culta, pois ela não pode ser esquecida.



                           Poemas de Vinícius de Moraes


Aquarela 
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá


 Relata a infância de todos nós, marcada pela nossa imaginação e nos passa varias mensagens. Ele também mostra que podemos ter fantasias, viajar com apenas lápis e papel. Por um lado ele fala que a infância de uma criança tem que ser assim, divertida carinhosa, não como vemos crianças passando fome. Fala que no passar do tempo, as crianças mudam para adolescentes e com suas obrigações acabam deixando suas fantasias para trás. Esse poema e considerado moderno pela estrutura, pelas rimas e pela forma simples das palavras.




Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora

Ele relata nesse poema a paixão que está sentindo e ele pede perdão por esse sentimento ter surgido tão rápido e poder estar assustando ela,e mostra que esse sentimento pode não ser correspondido . Esse poema é considerado moderno pelas palavras, versos e temática.



Garota de Ipanema 

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor



 Vinícius relata nesse poema a beleza da mulher brasileira com seus encantos e seduções. Este poema é considerado moderno, pois demonstra como a mulher se destaca nos dias de hoje e também a estrutura do poema é feita com uma forma mais natural como se estivéssemos escutando o autor dizer aquilo naquele exato momento.


Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais Lara-Lara
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.



Vinícius relata nesse poema o amor que necessita ser correspondido e através dos olhares eles se encontram e apaixonadamente se satisfazem. Apesar de ter sido escrito no século passado o poema quer trazer a realidade de hoje o romantismo que esta sendo perdido, mas ao mesmo tempo demonstrar que o sentimento do amor sempre existirá.



Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinícius relata nesse poema a importância da amizade, do companheirismo do amigo. Este poema é considerado moderno pois trás um sentimento que nos dias de hoje é muito valorizado e necessário: a amizade. Utiliza os versos livres e com rimas.


Poemas de Carlos Drummond de Andrade



Ausência 

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

O eu lírico transformou a ausência que sentia, em uma parte de si próprio, fazendo assim com que ela deixasse de existir.
É considerado um poema moderno por suas características. Os versos são livres, a liberdade de escrever sobre o que está sentindo é predominante, etc.




Para Sempre 

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

O autor fala da dor que um filho sente ao perder uma mãe, fala que mãe deveria ser eterna, e filho nenhum merece esse sofrimento.
É um poema moderno, pois fala de um assunto do cotidiano, o que não era normal, pois só se escrevia sobre assuntos ”sublimes” até então. Também pela linguagem espontânea presente no poema.




Poema da purificação 

Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.
As água ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.

O poema fala da luta mundana entre o bem e o mal, onde mesmo com o bem vencendo, alguém superior purifica o mal.
Pertence ao modernismo pelas características estruturais do poema, como versos livres e palavras.




Congresso Internacional do Medo 

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

 O poema deixa de usar o amor como protagonista e como substituto usa o medo.
O poema é uma crítica a uma sociedade que é de todos os lados repreensora, causando amedrontamento do povo em relação a tudo, por isso pertence ao modernismo.


Cortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

A criação do tempo dividido em anos é aclamada pelo eu lírico, pois diz que é um modo de as esperanças se renovaram a cada início desse período chamado ano.
Reconhecemos o modernismo nas características estruturais do poema, que são versos livres, opinião do eu lírico expressa e a ausência de rimas.