29 de abril de 2013

Manuel Bandeira e Érico Veríssimo

Manuel Bandeira (1886-1968): foi poeta brasileiro, professor de Literatura, crítico literário e crítico de arte. Inicialmente interessado em música e arquitetura, descobriu a poesia por acaso, na condição de doente, em repouso, para tratamento de uma tuberculose. Os temas mais comuns de sua obra, são entre outros, a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância.
                              



Érico Veríssimo (1905-1975)
: É um dos célebres escritores brasileiros, muito popular no século XX. Trabalhou como farmacêutico, professor de literatura e língua inglesa.
Mas o que materializou sua existência e arte foram sem dúvida suas Obras, das quais destacam-se os Romances (Urbanos, Históricos e Políticos). Delas muitas Frases e pensamentos do escritor ficaram famosas – Frases sobre Amor, Vida e Reflexões.




Como é a Linguagem Literária da Modernidade? 

Algumas décadas atrás, a linguagem era regrada e complexa. Nos dias atuais, a mesma procura usar palavras simples e objetivas, de forma que todas as pessoas consigam entender, se aproximando muito da fala, isto é, o artista se liberta da escrita nobre, voltando-se a linguagem coloquial e espontânea. 
Também, na literatura moderna o artista procura romper com a tradição anterior, anseia por uma arte totalmente nova, aparece como um ser engajado em uma causa social e cúmplice da sua criação.



Poemas de Manoel Bandeira

                                                                   
                                                                        Pardalzinho 

O pardalzinho nasceu

Livre. Quebraram-lhe a asa.

Sacha lhe deu uma casa,

Água, comida e carinhos.

Foram cuidados em vão:

A casa era uma prisão,

O pardalzinho morreu.

O corpo Sacha enterrou

No jardim; a alma, essa voou

Para o céu dos passarinhos!


Explicação:
Manuel Bandeira traz à tona um dos anseios mais intensos e profundos do ser humano, que é desfrutar a liberdade. Também emprega o uso do verso livre (ruptura com a estrutura tradicional do poema), fala coloquial, poesia simples, direta, aproveitamento de fatos do cotidiano e sentimento de humildade.



Arte de Amar 

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Explicação:
Elementos como matéria e espírito, amor como ato físico e amor como experiência espiritual constituem o poema “A arte de amar”, no qual o poeta usa o tema da relação amorosa. E novamente ele utiliza versos livres, cotidiano brasileiro, linguagem simples e direta. 

                     


Noite Morta 


Noite morta.
Junto ao poste de iluminação
Os sapos engolem mosquitos.
Ninguém passa na estrada.
Nem um bêbado.
No entanto há seguramente por ela uma procissão de sombras.
Sombras de todos os que passaram.
Os que ainda vivem e os que já morreram.
O córrego chora.
A voz da noite. . .
(Não desta noite, mas de outra maior.)

Explicação:
Observe que o poema transmitiu uma forte impressão de melancolia e solidão – que se torna ainda mais pesada devido ao sentimento de irremediabilidade da morte que o texto reforça com seu final que fala “não desta noite, mas de outra maior”. E toda esta atmosfera é obtida por meio de versos livres, não há palavras difíceis nem imagens complexas no texto.



Minha grande ternura 


Minha grande ternura
Pelos passarinhos mortos;
Pelas pequeninas aranhas.

Minha grande ternura
Pelas mulheres que foram meninas bonitas
E ficaram mulheres feias;
Pelas mulheres que foram desejáveis
E deixaram de o ser.
Pelas mulheres que me amaram
E que eu não pude amar.

Minha grande ternura
Pelos poemas que
Não consegui realizar.

Minha grande ternura
Pelas amadas que
Envelheceram sem maldade.

Minha grande ternura
Pelas gotas de orvalho que
São o único enfeite de um túmulo.

Explicação:
É repleto de um lirismo melancólico que remete aos temas tão recorrentes na poética de Bandeira: a espera pela morte, a frustração, a lamentação de quem espera pelo fim, o sofrimento, a angústia, a tristeza. Pode-se entender a existência de dois tempos distintos no poema: o passado (uma vida que poderia ter sido e não foi) das três primeiras estrofes e o presente da última, simbolizando, então, o “enterro” das ações do passado, o resguardo mental, a experiência.




Meu último poema 

Assim eu quereria o meu último poema.
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
Explicação:
Em “O último poema” é possível encontrar o tom mórbido, a simplicidade é a meta do sujeito poético, é formado por versos livres, sem metrificação e sem rima e traz à tona um eu-lírico que expressa como quer que seja seu último poema: simples e espontâneo. 



Poemas de Érico Veríssimo

Trecho da obra “Clarissa”, de 1933 

“... sobre uma coluna de madeira escura, a um canto da sala rebrilha o aquário. Pirolito está agitado. Será que a luz elétrica o assusta? Clarissa se aproxima do vaso de cristal. Agora nota que a água parece toda cheia de rebrilhos. A janela, as lâmpadas elétricas, os móveis da sala, tudo se reflete no aquário."


Explicação: 
O mundo juvenil, povoado de sonhos e fantasias, possuía uma peculiaridade inconfundível: estava todo ele "refletido no aquário", mudando o desenho a todo o momento, metade de cada coisa revelada e a outra metade ainda interrogável na sombra. A realidade teria de ser captada no contorno do aquário, respeitando o mistério do universo de Clarissa que só a ela pertence. O romancista não se impõe às personagens; ao contrário, prefere ver o mundo através das personagens; e isso as faz viver como gente de carne e osso.



Outro trecho da obra “Clarissa”, de 1933 

"O raio de sol é de um outro mundo. Clarissa, se pudesse falar, se tu pudesses entender. Eu te diria que nunca desejasses que o tempo passasse. Eu te pediria que fizesses durar mais e mais este momento milagroso."

Explicação:
Há também na obra o lado obscuro e amargo da vida, refletido em Amaro, que contempla na vitalidade física e espiritual de Clarissa tudo aquilo que a vida lhe negou: segurança, alegria, imaginação. Amaro transfere a Clarissa à imagem da mulher que sempre idealizara e sabe que nunca chegará a possuir. Nesse trecho o personagem expressa à melancolia diante do futuro que não está mais ao seu alcance.
Podemos perceber um dos temas recorrentes usados pelo autor em suas obras - o tempo; o comportamento dos seres perante o decurso do tempo, que é vida e morte, descoberta e esquecimento. E outra marca da identidade do romancista é a preferência por personagens femininas.



Trecho do livro “Olhai os Lírios do Campo”, de 1938 


“Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças e da incompreensão de nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranhas-céus se não há mais alma humana para morar neles…”

Explicação:
Nesse Livro destacam se o lirismo romântico da história de Eugênio, descobrindo que o dinheiro não traz felicidade, aos moldes do romance urbano de 30, de caráter socialista. Há também as Cartas de Olívia, muito profundas que falam sobre a ganância dos homens, ideias revolucionárias de mudanças individuais e coletivas e uma bela visão da Fé e de Deus são relatadas.




Trecho do livro “O Resto é Silêncio”, de 1943 

"Você é muito menino, ainda não sabe de certas coisas... Mas viver é morrer em prestações. Cada criança que nasce assina com a vida um contrato de compra e venda... e nós nunca sabemos o prazo certo do vencimento. [...] A criança assina o contrato e o vendedor, que é a Morte, passa a cobrar as prestações anualmente. Cada ano nós morremos um pouco. Quando vamos ficando velhos, as prestações já não são anuais, e sim semanais. Por fim o contrato se vence. E o pior de tudo é que nós continuamos sem saber o que compramos. Por acaso você sabe?"

Explicação:
Nesse trecho, o autor nos mostra, a fragilidade humana e a forma como vivemos neste mundo de modo tão efêmero, e como a morte nos impressiona e nos marca.
Em “O resto é silêncio” temos uma história vista de sete ângulos diferentes, que é narrada do ponto de vista dos personagens, o que garante a narrativa psicológica. Érico Veríssimo analisa o comportamento humano, ao mesmo tempo em que traça o perfil de uma época.



Trecho de “Incidente em Antares”, de 1971 

“Nasciam em Antares os boatos mais desencontrados. Ora, um boato é uma espécie de enjeitadinho que aparece à soleira duma porta, num canto de muro ou mesmo no meio duma rua ou duma calçada, ali abandonado não se sabe por quem; em suma, um recém-nascido de genitores ignorados. Um popular acha-o engraçadinho ou monstruoso, toma-o nos braços, nina-o, passa-o depois ao primeiro conhecido que encontra, o qual por sua vez entrega o inocente ao cuidado de outro ou outros, e assim o bastardinho vai sendo amamentado de seio em seio ou, melhor, de imaginação em imaginação, e em poucos minutos cresce, fica adulto – tão substancial e dramático é o leite da fantasia popular –, começa a caminhar com as próprias pernas, a falar com a própria voz e, perdida a inocência, a pensar com a própria cabeça desvairada, e há um momento em que se transforma num gigante, maior que os mais altos edifícios da cidade, causando temores e até pânico entre a população, apavorando até mesmo aquele que inadvertidamente o gerou.”

Explicação:
Incidente em Antares é marcado por um forte tom político, além de trazer características do Realismo Fantástico, já que coisas reais e irreais acontecem com a mesma naturalidade. Com uma linguagem irônica, de humor e ao mesmo tempo de crítica social, Érico Veríssimo traz neste romance uma análise da sociedade de Antares em uma comparação à própria sociedade brasileira.



Conclusão 

O Modernismo tem como objetivo o rompimento com o tradicional, é a busca pela liberdade de pensar e de expressar sentimentos, a partir de uma linguagem simples e a valorização do popular.
O Modernismo Brasileiro foi o movimento que impulsionou a construção de uma literatura brasileira mais autônoma em relação aos padrões europeus, que nos serviam de modelo naquela época.


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