15 de abril de 2013

Vinícius de Moraes e Carlos Drummond de Andrade

Marcus Vinícius da Cruz Mello Moraes, nasceu em 19 de outubro de 1913, no Rio de Janeiro. Atraído pela música desde cedo,teve seu primeiro poema musical publicado na revista A Ordem, em 1932. Morreu também no Rio de Janeiro, a 9 de julho de 1980. Os primeiros passos de sua carreira estão ainda sob influências neossimbolistas, contendo certo misticismo. Porém, logo modificou seu estilo para o erotismo, em contraste à suas obras de tom bíblicas anteriores. É caracterizado por inovações na ordem formal, a mais notável destas seria o aparecimento dos sonetos. Revela uma valorização para o momento, com as coisas acontecendo de repente. Seus poemas trabalharam com a felicidade e/ou a infelicidade muitas vezes. Vinícius procurou também escrever algumas poesias no ramo social, fez importante colaboração para a música nacional, cantando no estilo bossa nova.




Carlos Drummond de Andrade Nasceu em 1902, na cidade de Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais. Filho de Carlos de Paula Andrade e Julieta Augusta Drummond de Andrade, proprietários rurais decadentes. O seu estilo poético era permeado por traços de ironia, observações do cotidiano, de pessimismo diante da vida, e de humor. Drummond fazia verdadeiros "retratos existenciais", e os transformava em poemas com incrível maestria. Morreu no Rio de Janeiro, no dia 17 de agosto de 1987, doze dias depois do falecimento de sua filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade.






Como é a linguagem literária na modernidade? 
A linguagem literária na modernidade esta se atualizando cada vez mais e utilizando uma maneira de escrever mais fácil de ser compreendida, pois a literatura mais antiga utilizava de palavras mais complexas e isso acabava dificultando a compreensão. Os escritores hoje também estão colocando em seus textos muitas gírias e termos populares, mas sempre mesclando com a língua culta, pois ela não pode ser esquecida.



                           Poemas de Vinícius de Moraes


Aquarela 
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
E se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Se um pinguinho de tinta cai num pedacinho azul do papel
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu

Vai voando, contornando
A imensa curva norte-sul
Vou com ela viajando
Havaí, Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela branco navegando
É tanto céu e mar num beijo azul
Entre as nuvens vem surgindo
Um lindo avião rosa e grená
Tudo em volta colorindo
Com suas luzes a piscar
Basta imaginar e ele está partindo
Sereno indo
E se a gente quiser
Ele vai pousar

Numa folha qualquer eu desenho um navio de partida
Com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida
De uma América a outra consigo passar num segundo
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Um menino caminha e caminhando chega num muro
E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está

E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá


 Relata a infância de todos nós, marcada pela nossa imaginação e nos passa varias mensagens. Ele também mostra que podemos ter fantasias, viajar com apenas lápis e papel. Por um lado ele fala que a infância de uma criança tem que ser assim, divertida carinhosa, não como vemos crianças passando fome. Fala que no passar do tempo, as crianças mudam para adolescentes e com suas obrigações acabam deixando suas fantasias para trás. Esse poema e considerado moderno pela estrutura, pelas rimas e pela forma simples das palavras.




Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor
seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentando
Pela graça indizível
dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura
dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer
que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras
dos véus da alma...
É um sossego, uma unção,
um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta,
muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite
encontrem sem fatalidade
o olhar estático da aurora

Ele relata nesse poema a paixão que está sentindo e ele pede perdão por esse sentimento ter surgido tão rápido e poder estar assustando ela,e mostra que esse sentimento pode não ser correspondido . Esse poema é considerado moderno pelas palavras, versos e temática.



Garota de Ipanema 

Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar

Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha

Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor



 Vinícius relata nesse poema a beleza da mulher brasileira com seus encantos e seduções. Este poema é considerado moderno, pois demonstra como a mulher se destaca nos dias de hoje e também a estrutura do poema é feita com uma forma mais natural como se estivéssemos escutando o autor dizer aquilo naquele exato momento.


Pela luz dos olhos teus

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais Lara-Lara
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.



Vinícius relata nesse poema o amor que necessita ser correspondido e através dos olhares eles se encontram e apaixonadamente se satisfazem. Apesar de ter sido escrito no século passado o poema quer trazer a realidade de hoje o romantismo que esta sendo perdido, mas ao mesmo tempo demonstrar que o sentimento do amor sempre existirá.



Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...

Vinícius relata nesse poema a importância da amizade, do companheirismo do amigo. Este poema é considerado moderno pois trás um sentimento que nos dias de hoje é muito valorizado e necessário: a amizade. Utiliza os versos livres e com rimas.


Poemas de Carlos Drummond de Andrade



Ausência 

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

O eu lírico transformou a ausência que sentia, em uma parte de si próprio, fazendo assim com que ela deixasse de existir.
É considerado um poema moderno por suas características. Os versos são livres, a liberdade de escrever sobre o que está sentindo é predominante, etc.




Para Sempre 

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

O autor fala da dor que um filho sente ao perder uma mãe, fala que mãe deveria ser eterna, e filho nenhum merece esse sofrimento.
É um poema moderno, pois fala de um assunto do cotidiano, o que não era normal, pois só se escrevia sobre assuntos ”sublimes” até então. Também pela linguagem espontânea presente no poema.




Poema da purificação 

Depois de tantos combates
o anjo bom matou o anjo mau
e jogou seu corpo no rio.
As água ficaram tintas
de um sangue que não descorava
e os peixes todos morreram.
Mas uma luz que ninguém soube
dizer de onde tinha vindo
apareceu para clarear o mundo,
e outro anjo pensou a ferida
do anjo batalhador.

O poema fala da luta mundana entre o bem e o mal, onde mesmo com o bem vencendo, alguém superior purifica o mal.
Pertence ao modernismo pelas características estruturais do poema, como versos livres e palavras.




Congresso Internacional do Medo 

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

 O poema deixa de usar o amor como protagonista e como substituto usa o medo.
O poema é uma crítica a uma sociedade que é de todos os lados repreensora, causando amedrontamento do povo em relação a tudo, por isso pertence ao modernismo.


Cortar o tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.

A criação do tempo dividido em anos é aclamada pelo eu lírico, pois diz que é um modo de as esperanças se renovaram a cada início desse período chamado ano.
Reconhecemos o modernismo nas características estruturais do poema, que são versos livres, opinião do eu lírico expressa e a ausência de rimas.



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